Pratos, xícaras, mobília quebrada, gavetas jogadas ao chão, roupas colocadas de todo jeito dentro de uma pequena mala. Ela se maquiou, se perfumou, pegou a chave do carro de seu pai e foi embora para algum lugar que nem ela sabia. Tinha 16 anos quando fugiu de casa, razões? Nunca dissera, nunca nem sequer contara seu nome verdadeiro ou idade, de onde veio? Nem ela sabia mais. Não tinha pais, família, tinha amigos e namorados apenas de alguns dias, ou apenas por uma noite. O que acontecera? Ninguém sabia e provavelmente nunca saberia.
Identidade, carteira de motorista, moral, sentimentos, tudo falsificado, tudo trocado por uma vida desregrada, banhada por álcool e drogas. De manhã e a tarde trabalhava em uma lanchonete como garçonete, ganhava um mísero salário e era obrigada a, no período da noite, trabalhar como stripper em uma boate. Talvez ela gostasse desse emprego, talvez fosse apenas necessidade mas o fato é que Stela, como a chamavam, era uma garota bonita e simpática, dona de um corpo esbelto e desejado mas que seus olhos e sua vida eram cheios de mistério.
Constantemente era vista em um bar, sempre com um cigarro entre os dedos, mesmo sendo dona de um corpo arrasador, a mesma também era possuidora de um olhar penetrante e ameaçador, ao qual amedrontava qualquer homem que ousasse se aproximar, sem dizer ao menos uma palavra. Porém, os homens do bar já estavam acostumados com aquela estranha mulher, que entrava e saía sem dizer ao menos uma palavra, ninguém sentava perto dela, nem muito menos tentavam puxar assunto.
Era madrugada de um domingo triste, Stela estava lá sentada com seu copo de uísque nas mãos, perdida em pensamentos e na fumaça do cigarro. Nada de diferente, mas naquela madrugada estava prestes a acontecer algo que iria mudar o rumo daquela triste vida que aquela moça levava, ali naquele bar apenas vendo a vida passar diante de seus olhos.
De repente, um homem muito bonito e atraente entra no bar, ele não costumava frequenta-lo, na verdade ele não aparentava frequentar bares daquele classe, pois estava muito bem vestido e aparentava ser de classe alta. A partir daquele dia, aquele homem ia pelo menos umas três vezes por semana àquele lugar, também não era muito de conversa mas também não aparentava esconder nada por ser ao mesmo tempo um homem muito simpático e educado. Sentava a maioria das vezes ao lado de Stela e pedia a mesma bebida de sempre, carregava consigo um bloco de notas e estava sempre a escrever.
Dias se passavam e nada mudava, ele entrava, escrevia e ia embora. Até que um dia sentou-se ao lado de Stela e como sempre põe-se a escrever, mas não escreveu muito e subitamente fechou o bloco de notas e o guardou dentro do bolso do casaco. Depois de beber um pouco, começou a encarar Stela como se já tivesse a visto antes, e quando a mesma percebeu pediu a conta e já estava se levantando para ir embora quando o homem a segurou pelo braço.
- Licença, mas estou tendo uma leve impressão de que eu lhe conheço... - disse o homem, ainda segurando Stela.
- Não, eu tenho certeza que não, o senhor deve estar me confundido com outra pessoa. - respondeu Stela, que por sua vez estava bastante assustada com a situação.
- Prazer, Paul Houston, tenho 30 anos e sou britânico. Agora nos conhecemos, porque não senta-se ao meu lado e bebe um drink comigo? Assim nós comecemos melhor... - insistiu.
- Desculpe mas estou com pressa. - Pegou sua bolsa e ia se virando para ir embora quando o homem a segurou pelo braço novamente, porém, dessa vez ele não foi nada amigável, o que a deixou ainda mais assustada.
Ele se levantou, se aproximou de seu ouvido e sussurrou - Eu sei o seu segredo, estou com todas as provas no meu apartamento para te incriminar e se você não quiser ser presa hoje é melhor sentar-se e conversar comigo ou as coisas podem não ficar muito boas para você.
Garota de Lugar Nenhum - por Beatriz Medeiros.
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